Bonjoour💌Fazer (só) o que ama?

Jan 16, 2024 11:35 am

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Existe algo inegociável para as crianças nas escolas francesas: provar os alimentos oferecidos no almoço. Gostando ou não. Querendo ou não. Provar é preciso. Que fique claro: a criança não é obrigada a comer o que ela não quer ou gosta do menu (um tanto quanto robusto com entrada, prato principal e sobremesa), mas ela precisa, ao menos, provar o que é colocado no prato.


Ontem é diferente do hoje.

Devemos nos permitir tentar (quantas vezes precisar).

Talvez você passe a amar algo que não gostava.

As coisas podem mudar.


🤔É algo como: "vai que hoje você gosta da beterraba que até ontem você odiava". E olha que algumas dessas tentativas já converteram gostos dos meus filhos. Certo dia, um deles chegou em casa falando que adorava comer espinafre na escola, mas não em casa. Busquei entender, quem sabe replicar alguma receita. Parecia que era o molho diferente que ía junto do espinafre. Não entendi muito bem. Ficou por aí. A criança come espinafre na escola, mas em casa o recusa. Tá tudo bem. A gente segue tentando. Provou, gostou, come. Provou, reprovou, deixa. 


E sabe, estava refletindo sobre como isso diz tanto sobre como lidamos com a vida.


A gente pode não gostar de algo (isso vale para muitas coisas que não somente comida) até que vai se dando uma chance, duas chances, se habituando, e quando percebe "pegou o gosto da coisa".


😍 Fazer (só) o que ama. Mito, verdade ou imaturidade?


Sou da geração Millenial, nasci em 1983 (isso! tô na casa dos 40) e existe algo forte em minha geração: o frenesi do "faça o que você ama". Bem, eu sou avessa a esses dircursos e acredito ser um tanto quanto perigoso. Conheço pessoas que estão há décadas em busca de fazer (só) o que ama. Gente que de tanto buscar, nada encontra. Gente que vive "correndo atrás do rabo". Gente que, por conta dessa idealização, acabou perdendo a confiança em si.


Entretanto, penso que existe algo de nuclear nisso tudo. A imaturidade. Olha...se eu deixasse meus filhos fazerem só o que amam, tenho certeza que o desenvolvimento deles estaria comprometido a essa hora. E claro! Não só deles, como o de qualquer outra criança que deixar fazer (só) o que ama.


Se eu fizesse só o que eu amo, estaria com idade mental de 12, mesmo com idade cronológica de 40.


🤫Confesso


Na maioria das vezes, eu não faço o que amo, faço o que eu preciso fazer para chegar aonde quero chegar. E busco fazer o que faço com amor.


O que me motiva a dar os passos são os meus valores e não um amor "platônico" por algo. São neles, nos meus valores, que me concentro para não me desviar do caminho. Neles me agarro para vencer as resistências que eu mesmo prego para mim. Os meus valores me guiam, onde quer que eu esteja, em busca de me tornar um ser humano melhor.


Não sei se você sabe, mas trabalhei durante alguns anos na Odebrecht. Esta empresa, considerada a maior construtora do Brasil e dentre as 25 maiores construtoras do mundo, ficou também (muito) conhecida pelo seu envolvimento no maior esquema de corrupção (que saibamos) na história do Brasil.


Olha, não foi fácil me manter motivada durante a operação "Lava Jato". Naquela época, eu passei a não mais amar ir para a empresa. Mas o que me fez seguir com o meu trabalho (além de não ser herdeira, haha) foram os meus valores: claros, preservados e intactos. Mesmo em meio ao caos.


Com aquela experiência aprendi que trabalhos, relações pessoais, familiares, etc, são meios que possbilitam a gente colocar nossos valores (tão nossos!) em prática. Não importa onde e com quem estejamos. Nem sempre é fácil, gostosinho, ou "good vibes only".


📕Bem...escrever o "Não estou de TPM" é outro exemplo de "fazer o que precisa ser feito". Eu gosto muito de escrever. Entretanto, escrever um livro, para mim, está em outra dimensão. Me lembro de falar comigo mesma: "Érika, eu não sei como você vai fazer para escrever e publicar esse livro, mas você vai fazer". Existia um valor muito forte nesse compromisso que eu assumi comigo: a justiça. Era justo eu compartilhar com mais pessoas o privilégio do conhecimento que eu estava tendo naquele momento. Acesso a tantos livros e "raridades" de sabedoria. Era justo eu produzir algo de bom durante a crise do Covid-19, em um confinamento tão privilegiado como o meu.


Ver o meu livro publicado e enxergá-lo em tantas mãos, conectando corações...Meu Deus do céu. Que amor! Muitas vezes foi difícil escrever a próxima linha, a próxima página. Em alguns momentos eu não estava amando fazer aquilo, doía muito. Chorei (muitas e muitas vezes). Falar sobre menstruação e guerra, menstruação e histeria, dentre outros temas, me levou a encontrar camadas horríveis do ser humano. E eu tive que polir muito sobre o que saía da "minha boca", a minha dor, a minha revolta eram minhas, apenas minhas. Então, fiz um combinado comigo: o livro só vai ser publicado quando a amorosidade prevalecer. E assim foi! Fico feliz que, com diversos feedbacks de leitoras e leitores, eu tenha conseguido chegar lá.


💗Por fim, seja experimentar o espinafre "só" mais uma vez, escrever "só" mais uma linha de um livro, ou iniciar "só" mais um projeto, não precisa ser "só" sobre fazer o que ama, mas, quem sabe, descobrir que se ama no meio do caminho. E olha...acho que o universo dá uma ajudinha quando a causa é boa, mesmo se não for "good vibes only". Causas boas dão trabalho.


E para me despedir da nossa primeira newsletter de 2024, aqui vão os meus votos para você:


🥂Desejo que em 2024 você faça o que precisa ser feito para que, quando chegar 23h59 do dia 31 de dezembro, a sua alma esteja leve o suficiente para celebrar e brindar. Só vai! Amando ou não. Que o seu ano seja incrível (mesmo se rolar choro em baixo do chuveiro).


Qualquer coisa tô aqui tá!

com amor, Érika

(grata surpresa, amo escrever newsletter) 


pra ficar de olho:


👀na próxima semana o @inteligencia.menstrual, a minha nova marca para falar só sobre menstruação, será lançada. Uhuuu! Me acompanha por lá pra não perder nenhum post.

👀o livro "Não Estou de TPM" agora também está no Kindle.

👀ah e ainda tem estoque para o livro físico ser enviado na Europa, se quiser o seu exemplar, me responde aqui nesse e-mail.

👀e lembrando que no Brasil você consegue comprá-lo também na Livraria da Vila, nesse link aqui



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